A Menina que Nasceu Sorrindo
Ninguém poderia imaginar que algo desse tipo poderia acontecer no Brasil, digo Brasil levando em consideração o atraso em que o país vive, principalmente o intelectual e cultural.
A maternidade era simples, todas as mulheres pobres da cidade tinham seus filhos lá. Os quartos eram compartilhados, de maneira que o pai não poderia ver o nascimento de seu filho para não ver as mulheres dos outros arreganhadas parindo.
A quantidade de leitos eram limitadas, algumas grávidas tinham que ficar caminhando no corredor até que uma vaga surgisse para expelir seu filho no mundo.
A infraestrutura do lugar entra em contraste com o atendimento das enfermeiras e funcionários, aquelas mulheres parecem que haviam nascido para fazer nascer. A equipe era formidável, vez ou outra uma enfermeira aparecia para ver se as novas mães não estariam precisando de alguma coisa.
Num quarto largo estavam seis leitos, seis mulheres paridas e seis crianças chorando. Parece que elas combinavam entre si o momento de chorar, parecia uma sinfonia organizada, todas pareciam ter uma voz de tenor devido a grande algazarra (para não falar presepada) que faziam.
Algumas mulheres estavam acompanhadas das mães, vovós corujas que não perderiam a oportunidade de verem logo seus netos; outras estavam sozinhas, abandonadas, melancólicas, pareciam até que fizeram seus filhos sozinhas com o dedo, estas pediam as outras mulheres para "passarem os olhos" no bebê enquanto iam ao banheiro. A única que estava acompanhada do pai era a pequena Agatha.
Logo que uma mãe recebia alta chegava um novo recém nascido nos braços de sua mãe para ocupar o novo leito. Algumas tiveram que fazer cesariana, pois alguns bebês nasciam com a cabeça muito grande e era impossível sair por aquele minúsculo buraco de vida.
Existiam vários quartos na maternidade, cada quarto com seis leitos, mas o quarto número doze era o mais importante de toda a maternidade, pois no leito número quatro estava uma menina especial. Todos viam visitá-la, tirar fotos, filmar aquela bendita criança. Parecia um camarim ou algo parecido, só não pediam autógrafo porque a criança não nasceu sabendo escrever, mas era só o que faltava. A equipe que fizera o parto da garotinha jurou que ela nascera sorrindo, isso mesmo leitor, ao invés de chorar, como faziam todos bebês, Agatha nascera sorrindo, não digo gargalhando pois assim seria demais, mas com um pequeno sorriso estampado no rosto.
A perplexidade da equipe de parto era tamanha que quase derrubam o bebê no chão, todas as equipes da maternidade foram chamadas para testemunhar o fato. Bebês eram empurrados novamente para o ventre da mãe, outros trocados na maternidade por que foram misturados antes de serem marcados com o nome da mãe. A equipe de segurança do hospital abandonou o seu posto e invadiram o quarto para ver o sorriso da garotinha. Os estabelecimentos comerciais fecharam suas portas e juntamente com os vizinhos daquela localidade aglomeraram-se na porta da maternidade querendo entrar. A polícia militar fora chamada e não deu jeito, chamaram a civil, o exército e a guarda municipal da cidade até que conseguiram conter o povo.
O sorriso da criança foi manchete em todos os jornais do Brasil e do mundo, o New York Times publicou "Child born with a smile in Brazil".
Salvador passou a ser ainda mais conhecida por conta do fato, até o carnaval fora esquecido, quando se falava de Brasil lembrava-se de Salvador, quando falava de Salvador lembrava-se da garota que nasceu sorrindo.
A residência dos pais da criança fora mantida em segredo até hoje, as pessoas comentam se não foram uma invenção da equipe de parto para que a maternidade ficasse famosa, mas o bairro de Brotas não precisava ficar mais famoso, bem pertinho ali da maternidade estava Raul Seixas, enterrado em seu descanso eterno cantando Al Capone.
Cemitérios, maternidades, uns morrem outros nascem, e a pequena Agatha continua sorrindo para seus pais em um pequeno ponto de uma das periferias de Salvador.
Homenagem a minha filha linda Agatha Lorena.
Nascida na Materdidade do IPERBA, em Brotas.
Marcio Templartes
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